domingo, 19 de junho de 2011

A Mediunidade de Carl Jung


"Viver psicologicamente significa imaginar coisas... estar na alma é experimentar a fantasia em todas as realidades". (Hillman)

Carl Gustav Jung, criador da psicologia analítica e que, ao contrário de Freud, afirmou que a libido não era apenas um impulso sexual instintivo, mas também uma energia psíquica geral, dirigida para a vontade de viver, teve, durante o decorrer de sua vida, experiências psíquicas que "transcenderam os limites do tempo e do espaço" como gostava de registrar.
A presente abordagem de relatos sobre algumas das experiências transcendentais de Jung, baseada em obras consultadas e que serão relacionadas no final deste artigo, não tem a pretensão de convencer o leitor sobre a teoria da imortalidade da alma (ou da reencarnação) e, sim, levá-lo ao exercício reflexivo sobre este importante tema, que conforme a ótica da psicologia clássica, "são apenas fenômenos psíquicos oriundos de efeitos ilusórios de nossos processos mentais".

PRIMEIRO RELATO: JUNG E A INFÂNCIA
No fundo sentia-me "dois": o primeiro, filho de seus pais, que freqüentava o colégio, era menos inteligente, atento, aplicado, decente e asseado que os demais; o outro, pelo contrário, era adulto, velho, céptico, desconfiado e distante do mundo dos homens.
Perturbadíssimo, tomei consciência de que, na realidade, havia em mim duas pessoas diferentes: uma delas era o menino de colégio que não compreendia matemática e que se caracterizava pela insegurança; o outro era um homem importante, de grande autoridade, com quem não se podia brincar - mais poderoso e influente que aquele industrial. Era velho, que vivia no século XVIII, usava sapatos de fivela, peruca branca e tinha, como meio de transporte, uma caleça cujas rodas de trás eram grandes e côncavas e entre as quais o assento do cocheiro ficava suspenso por meio de molas e correia de couro.

SEGUNDO RELATO
Observação: Nesse caso particular, o motivo que o fez recordar foi um incidente na casa de um colega onde passava um período de férias. O dono da casa chamou-lhe energicamente a atenção, por causa de uma brincadeira com um barco - que fora proibida -, e que por pouco não terminou em tragédia.
Cabisbaixo, reconheci que fizera justamente o que fora proibido. A repressão era, pois, merecida. Mas ao mesmo tempo senti uma raiva de que aquele homem grosseiro, gordo e sem instrução ousasse insultar-me! E não me sentia apenas como um ser adulto, mas como uma autoridade, uma pessoa cheia de importância e dignidade.
O contraste com a realidade era de tal forma grotesca, que meu furor desapareceu de repente. Surgiu então em mim a pergunta: "Mas afinal quem é você para reagir como se fosse sabe lá o diabo, quem. E é claro que é o outro que está com a razão. Você é um colegial de doze anos, ao passo que o outro é um pai de família, um homem rico e poderoso que possui duas casas e vários cavalos magníficos".

TERCEIRO RELATO
Certo dia, quando habitávamos em Klein-Hüningen, perto da Basiléia, um fiacre verde, muito velho, passara diante da nossa casa vindo da floresta negra. Era uma caleça antiga, como as do século XVIII. Assim que vi, um sentimento de exaltação se apoderou de mim: "Ah, hei-la! É do meu tempo! - tinha a impressão de reconhecê-la, era semelhante aquela que me transportaria! Depois fui invadido por um sentimento estranho, como se eu tivesse sido roubado ou ludibriado no tocante ao meu amado outrora. O fiacre era um vestígio daquele tempo! É difícil descrever o que passou comigo e o que me emocionou tão fortemente: uma espécie de nostalgia? Uma saudade? Uma reminiscência? Era isso, era exatamente isso!".

QUARTO RELATO
Houve ainda um outro incidente que me lembrou do século XVIII. Vira, em casa de uma tia, uma estatueta dessa época, que representava dois personagens em terracota pintada. Um deles era o velho Dr. Stuckelberger, personalidade famosa da cidade de Basiléia. A outra figura representava uma de suas pacientes, com os olhos e a língua de fora. Havia uma lenda a respeito disso. Ora, a figura do velho doutor tinha sapatos de fivela que reconheci estranhamente como meus ou semelhantes aos meus. Estava convencido disso. "Usei esses sapatos". Esta convicção me perturbara de um modo profundo. "Sim, eram realmente os meus sapatos!". Eu os sentia nos pés e não podia compreender essa estranha sensação. Como poderia pertencer ao século XVIII? Acontecia-me, às vezes, datando, escrever 1786 em lugar de 1886 e isto era sempre seguido de um sentimento de inexplicável nostalgia.

QUINTO RELATO: O JUNG ADULTO E OS SONHOS
Recentemente, observei em mim mesmo uma série de sonhos que, com toda a probabilidade, descrevem o processo da reencarnação de um morto de minhas relações. Era mesmo possível seguir, com uma probabilidade não totalmente negligenciável, certos aspectos dessa reencarnação até a realidade empírica. Mas como nunca mais tive ocasião de encontrar ou tomar conhecimento de algo semelhante, fiquei sem a menor possibilidade de estabelecer uma comparação. Minha observação é, pois, objetiva e isolada. Quero somente mencionar a sua existência, mas não o seu conteúdo. Devo confessar, no entanto, que a partir dessa experiência observo com a maior boa vontade o problema da reencarnação, sem, no entanto, defender com segurança uma opinião precisa.

SEXTO RELATO: A APARIÇÃO DO ESPÍRITO DE UM AMIGO
Uma noite, estava deitado, acordado, pensando na morte súbita de um amigo cujo funeral tinha ocorrido no dia anterior... de repente, senti que ele estava no quarto. Pareceu-me que estava de pé ao lado de minha cama e me pedia que fosse com ele. Eu o segui em minha imaginação. Ele me levou para fora da casa, pelo jardim até a rua e finalmente até a sua casa. Subiu em um banquinho e mostrou-me o segundo dos cinco livros encadernados de vermelho da segunda prateleira a partir do alto. Essa experiência pareceu-me tão curiosa que, na manhã seguinte, fui até a sua viúva e perguntei se podia procurar uma coisa na biblioteca de meu amigo. Evidentemente havia um banquinho diante da estante, como em minha visão, e mesmo antes de chegar perto vi os livros encadernados de vermelho. O título do segundo volume era: "O legado dos mortos".

AS CONCLUSÕES DE JUNG SOBRE A IMORTALIDADE DA ALMA
Em 1956, respondendo ao senhor H. J. Barret, dos Estados Unidos, escreve Jung sobre sua crença na imortalidade da alma:
Ainda que meu tempo seja escasso e minha idade avançada um fato real, tenho gosto em responder às suas perguntas. Não são fáceis como, por exemplo, a primeira: se eu acredito numa sobrevivência pessoal após a morte. Não poderia dizer que acredito nela, pois não tenho o dom da fé. Só posso dizer que sei alguma coisa ou não, como tentarei expor a seguir.
1. Sei que a psique possui certas qualidades que transcendem os limites do tempo e do espaço. Em outras palavras, a psique pode tornar elásticas essas categorias, ou seja, 100 milhas podem ser reduzidas a uma jarda, e um ano a poucos segundos. Isto é um fato do qual temos todas as provas necessárias. Além disso, há certos fenômenos post-mortem que eu não consigo reduzir a ilusões subjetivas. Por isso, sei que a psique pode funcionar com o empecilho das categorias de espaço e tempo. Ergo-a própria a um ser transcendental e, por isso, relativamente não espacial e "eterna". Isto não significa que eu tenha qualquer tipo de certeza quanto à natureza transcendental da psique. A psique pode ser qualquer coisa.
2. Não há razão alguma para supor que todos os chamados fenômenos psíquicos sejam efeitos ilusórios de nossos processos mentais.
3. Não acho que todos os relatos dos chamados fenômenos miraculosos (como precognição, telepatia, conhecimento supranormal, etc.) sejam duvidosos. Sei de muitos casos em que não paira a mínima dúvida sobre sua veracidade.
4. Não acho que as chamadas mensagens pessoais dos mortos devam ser rechaçadas in globo como ilusões. Immanuel Kant disse certa vez que duvidava de toda história individual sobre fantasmas, etc., mas se tomadas em conjunto, havia algo nelas. Eu examino minuciosamente o meu material empírico e devo dizer que, entre muitas suposições arbitrárias, há casos que me fazem titubear. Tomei como regra aplicar a sábia frase de Multatuli: "Não existe nada que seja totalmente verdadeiro, nem mesmo esta frase".


LIVROS CONSULTADOS:
Argollo, Djama. JUNG E A MEDIUNIDADE
Jung, Gustav, Carl. PSICOLOGIA E RELIGIÃO
Richter, Lorena. REFLEXÕES CLÍNICAS SOBRE A TEMÁTICA DA RELIGIÃO
Fábio Bastos - Psicanalista Clínico e Interdimensional - Dirigente mediúnico espírita

Fonte: www.amebrasil.org.br


Extraído do Blog:
http://padmashanti.blogspot.com



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